No
domingo participei pela 1ª vez na corrida de cascais,
Há
poucas semanas tinha passado naquela que considero das estradas mais bonitas do
país, que liga Cascais ao Guincho. Sempre ladeada pelo atlântico bafejada pelos
ventos marítimos e com uma paz que só mar oferece.
O
meu objectivo para domingo era fazer um teste á minha capacidade física, marcar
um ritmo de prova a pensar em Badajoz e sobretudo divertir-me. Fui integrado
numa equipa a que aderi recentemente o Clube de Praças da Armada, um grupo de
amigos e ex-camaradas que partilham esta mesma paixão pelo desporto e pela
corrida. O dia anunciava-se fresco mas sem chuva, com nuvens altas o que
baralhou as contas do pessoal mas friorento que levou calças e polares. Como sempre
prefiro ter frio antes da prova do que andar a derreter durante a mesma (sei
bem do que falo).
Em
gesto de solidariedade acompanhei o coordenador do clube na entrega dos dorsais
aos atletas do clube que tinham vindo por meios próprios. Admiro a paciência do
meu amigo e colega responsável pelas inscrições e levantamentos de dorsais o
speaker anunciava menos de 5 minutos para o inicio e andávamos numa correria á
procura de um colega para lhe entregar o dorsal, mal sabíamos que já estava na
linha da frente da partida. Como resultado acabámos por oferecer o dorsal a um
senhor de meia-idade que veio ter connosco. Num sprint rápido ao carro para
deixar o envelope e o saco com a t-shirt chegámos quando iniciavam a partida
ficámos em últimos. Atrás de nós somente os da corrida dos 5km e os caminhantes.
Começámos a andar e quando passei o pórtico já tinha decorrido 2 minutos e
qualquer coisa, sabem o que é incrível? A meio da subida inicial já a algumas
centenas de metros da partida ultrapassei pessoas que iam claramente passear na
estrada a andar lado a lado, mas muitas que acabaram por se infiltrar no meio
dos atletas da prova maior e por ali andavam calmamente no seu passeio
domingueiro. (Disse-me um atleta que respeito a diferença entre partir em
primeiro e em ultimo é que nos primeiros 500m levamos logo 400m de atraso) fomos
furando como podíamos pela esquerda, direita por entre espaços e lá fui subindo,
como não tive aquecimento acusei logo no início o choque muscular. Depois de concluída
a 1ª volta de 5km com passagem pela meta (que ainda não entendi a necessidade)
o pelotão já estava mais distendido mas o prejuízo estava feito, levava muitos
minutos de atraso aos companheiros de equipa que se tinham posicionado no início
da coluna. O meu companheiro de equipa bem mais rápido e talhado para provas
curtas começou logo a ganhar terreno e desapareceu por entre a multidão. Consistentemente
fui passando e sendo passado até começar a sentir-me bem e no meu ritmo. Começamos
a sair de cascais em direcção ao Guincho mais á frente vejo a Analice grande
senhora esta que no altos dos seus “quase” 70 anos brilha e faz brilhar qualquer
prova onde participe. Trocámos sorrisos e votos de boa prova, passa por mim o
António Goucha Soares, o Jorge Pinheiro dos Run for fun na sua t-shirt laranja inconfundível
se ao segundo dei um hi-five amigo (foi meu professor na FDL numa cadeira de 4º
ano Família e sucessões) ao primeiro não consegui falar pois desviou-se pra
direita e eu sempre na esquerda pensei “ quando recuperar apanho-o” . a imagem
do azul do mar á esquerda era inebriante , a coluna estendia-se a perder de
vista por aquela estrada com um colorido tão peculiar como era bom estarmos
aqui..a correr..
Nessa
altura vejo as motos da polícia em guarda de honra aos atletas campeões que
regressavam na bisga tocados a vento, palmas com fartura e puxar por eles. Em
que outro desporto os próprios concorrentes aplaudem e puxam pelos que vão em
primeiro? O retorno estava para breve a coluna dos que vinham em sentido
inverso ia adensando e tornando-se cada vez mais compacta. Retorno!
Como
sempre divido as provas por fases ou momentos, o retorno assinalava nesta prova
o 3º momento/ fase.
1ª
o primeiro circuito de 5km com 2ª passagem pela linha partida
2º
de cascais até ao ponto de retorno
3º
do retorno á linha da meta
O
retorno aconteceu á passagem da 1 hora e 6 minutos. Senti o primeiro alívio com
a ausência de vento na cara, foi precisamente nessa altura que me apercebi que
tivemos uma sorte enorme com o tempo e com o vento. Senti na passada de 2
atletas que queriam fazer um tempo abaixo da 01,40h corríamos ora a 4,48” ou a 5,16” nesta fase era
intermitente. Mais á frente vejo em sentido inverso o Amigo João Lima e a Isa
(?) cumprimento fugaz mas sentido pelo respeito que nutro por este atleta que
fez a sua estreia na maratona no mesmo dia que eu. Siga pra Cascais, ao largo
passava uma embarcação que segui no mesmo sentido mas mais devagar, pescadores,
palmas de espectadores esporádicos e muita alegria de alguns foliões que não
perderam a oportunidade. Sinto-me pesado a noite anterior tinha estado em Sesimbra
onde fui ver os mascarados após um dia extenuante na empresa, o meu pequeno almoço
tinha ido uma desgraça, não me apetecia comer mas sentia fome então ia petiscando.
Torradas
fiz um chá de limão, não comi nada com lactose. Continuava com fome comi uma
colher de mel e uma banana, lembrei-me dos hidratos e comi umas garfadas numa
massa de atum que meti num pires de plástico, mais uma colher de mel e meia
banana. Carregava comida aleatoriamente pró buxo como se fosse fazer uma sopa
na Bimby. Na prova sentia-me pesado a minha passada normalmente forte estava
descontrolada ao km 16. Os atacadores estavam largos e os pés mexiam-se dentro
dos ténis como se fosse a carga no porão de um navio em mar agitado, continuava
sem querer parar. O 17 km
marcou-me ia começar a subir e depois era uma recta comprida e uma descida até á
meta (isto se a minha memória não falhasse) senti a falta de um gel ou de uma
bebida isotónica estava farto de água e apesar de não falhar um abastecimento
no total devo ter bebido 1 garrafa apenas. Começo a sentir que vai acabar em
breve, mas contrariamente ao que inicialmente previra não vou acabar bem, o gémeo
da perna esquerda doe-me, os pés doem-me sinto que estão a assar dentro das
meias pela fricção com os ténis que vão de atacadores largos e quase abertos..Não
quero parar sei bem que se parar o recomeço é terrível, resolvi arriscar e aumentei
a cadencia. Chego ao topo da subida vejo a
longa recta pontilhada pelas cores das camisolas, sei que faltam menos de 2 km e apesar das
contrariedades ainda tenho gás..aumento agora a passada , sinto o seu efeito ao
ganhar tempo e terreno aos que vão na minha frente, agora não posso parar é a
descer é a minha praia, 4,30”
e a descer , vou dar tudo depois na
descida 4,10”
falta menos de 1 km
pensava, continuava forte num braço de ferro com as pernas e com os pés..ultima
curva á esquerda e vejo a baia e o pórtico arranco numa loucura desenfreada e ao
passar um atleta sinto que me quer
acompanhar nesta ultima centena de metros, desafio-o e saio disparado , fui
campeão dos 4x100m na Força de Fuzileiros vamos ver..mas foi há tanto tempo J
Ombro
a ombro antes da meta desacelero e empurro-o para que cortasse primeiro,só nas fotos me apercebo de que o publico assitiu e vibrou com o desafio . terminamos
no mesmo segundo.!!
sem me conhecer volta-se e agradece-me com hi-five e abraço ..Incrível o espírito que se cria nas pessoas que correm
sem me conhecer volta-se e agradece-me com hi-five e abraço ..Incrível o espírito que se cria nas pessoas que correm
Terminei
mais uma prova, esta com grande interesse pois é um teste para Badajoz
Fiz
no Polar 01:41:28” e menos 1”
no chip da organização
Gostei
imenso da prova fiquei fã e quero repetir, obrigado a todos , á Xistarca e á
C.M Cascais
Um
abraço ao João Lima, Luis e Fernanda Parro, Jorge Pinheiro, Analice e Antonio
G. Soares. Á miúda do Peso pesado (?) os meus parabéns pelo esforço e pela sua
superação, ao atleta que encontrei de cadeira de rodas que não era de corrida e
que com um espírito de ganhador fez a sua prova, aos populares da meta que nos
apoiaram e fizeram parte da prova.
Pró
ano ..Volto !
"...Não é que não tenha espírito de competição. Acontece simplesmente que, por uma ou outra razão, desde miúdo que nunca me preocupei com a questão de ganhar ou perder no confronto com alguém. E esse foi um sentimento que permaneceu intacto quando entrei na idade adulta. Ganhar a este ou àquele não me diz rigorosamente nada. Interessa-me, isso sim, alcançar os objectivos que me propus, razão pela qual a corrida de longa distância se revela a disciplina ideal para um indivíduo com a minha mentalidade..."
Palavras de Haruki Murakami in "Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo"
4 comentários:
Claro que para o ano tens que voltar. Até vais ter o nome na camisola! :)
Parabéns pela prova e a ver se para a próxima temos tempo para falar um bocadinho.
Um abraço
PS - Sim, podes retirar o ponto de interrogação que era a Isa.
Gostaria de voltar para o ano :)
A ideia de inscreverem o nome dos atletas que acabaram na tshirt é original e faz com que os participantes regressem :)
era um prazer conversar contigo João, a proxima corrida é o GP do atlantico na costa caparica acho que são 10k Estás convidado, organizada pelo mundo da corrida dizem muito bem da prova e é tb com o atlantico como cenário.
parabéns tambem pela tua prova nº 250
abraço e bons treinos
Faço minhas as palavras do Sr. Murakami! (Nem entendo como possa ser de outra menira, a não ser que sejamos profissionais a disputar o pódio).
Parece que foi uma boa prova, apesar desse pequeno-almoço "improvisado" :), com tempo para brincar, ver as vistas e correr, terminando em grande. Parabéns, é um bom sinal para a Maratona que se aproxima!
Bjs e boa semana.
Olá R
este Murakami é um sábio :)
podia ser qq um de nós a escrever isto, não era?
Foi uma prova que gostei num percurso 5 estrelas. Pena que os meus pés tenham sofrido tanto. o pé direito até está queimado por debaixo do tarso..
cuidado com o uso do camelback :)
bj e obg pela resposta
Enviar um comentário