caro diário
de corridas.
Prometi a
mim mesmo não pensar muito na prova
Mas de
soslaio olhei para o calendário e vi que faltam 10 Dias..10 dias !
Não sei se com os outros atletas é assim, mas eu pareço um
miúdo na véspera de natal que anseia pelas 12 badaladas.
Fiz o que podia! Treinei com disciplina, abandonei alguns
velhos hábitos e mantive outros. Andei ansioso com uma lesão antiga que me
afecta sempre nos momentos mais inoportunos.
Entreguei-me ás mãos assassinas de uma fisioterapeuta louca,
perdi peso, ganhei muita motivação e perdi-a no minuto seguinte, fiz
experiências e adoptei planos de treino infalíveis.
Treinei com os melhores, fiz rampas, treinos de séries e
intervalados, rolei centenas e centenas de kms entre provas e treinos. Levei
com chuva e vento na cara, enregelei até ao tutano, Experimentei equipamentos e
fiz longos treinos com eles. E para finalizar tenho um nº de dorsal
que é o melhor que poderia pedir. Sem contar que quase que me converti a uma
religião a que escapei por milagre.
Mas porque razão continuo cheio de duvidas e apreensões?
Ontem ao almoçar com colegas perguntaram-me se estava preparado para a
maratona? A resposta óbvia pelo que referi anteriormente seria que sim, que
estava! Mas não, talvez num acto de lucidez disse que não! E que não era falta
de treino nem de força psicológica. Não sabia explicar e continuo sem o saber.
Normalmente leio muito, desde artigos relacionados com a
profissão e claro sobre o desporto. Compro revistas da especialidade, devoro
livros de autor, leio jornais, consulto informação dos maiores atletas, mas na
realidade cheguei á conclusão de que estes não são a minha “praia”. Estou a
anos-luz deles como me posso comparar e utilizar os mesmos métodos?
Até que um criei um Blog e aprendi a seguir outros bloguistas
( gente doida). No meu caso comecei a escrever estados d´alma, falar na 1ª
pessoa com as minhas experiências, os meus sucessos e as minhas dúvidas.
Aprendi a ler as emoções dos outros colegas atletas de pelotão e bloguistas
como eu, aquilo que pensam, a forma como treinam, como reagem ás adversidades,
o esforço que diariamente fazem para conciliar a profissão com a paixão, as
compreensão das suas famílias.
A verdade é que aprendi a “gostar “ deles de forma natural, a
vibrar com as suas vitórias e sucessos e a desejar-lhes toda a sorte do mundo
sempre que algo não corria bem. Acredito que é preciso uma certa dose de
humildade para nos expormos e partilharmos as nossas paixões e uma certa dose
de “ loucura” para rirmos e trocarmos opiniões sobre coisas do arco-da-velha
que a maioria não entende. Ao jantar falei na conversa do almoço e mais uma vez
a conversa veio no sentido de que “isto “ não é desporto, que apenas deveria
dar umas corridas, ir no máximo às meias maratonas, treinar no ginásio e ter
uma vida normal. Ser Normal? Mas o que é ser normal, o que é isso de vida
normal? Alguém me sabe explicar?
Ser normal será chegar a casa e calçar as pantufas
trocando-as pelas sapatilhas? É vestir roupão em vez de calções, é jantar e
sentar-me na sala á espera do sono enquanto engordo a rir-me dos reality show?
é pegar no popó e ir beber um café no snack do amigo que fica a 300m? é acordar
ao domingo e ir para o elefante azul lavar o carrinho e de seguida dar a
voltinha e fazer tempo até ao almoço? Procurar as gasolineiras low cost e ficar
longos minutos com o carro a trabalhar á espera que chegue a minha vez? É
maldizer o tempo e a chuva e o frio porque não tenho nem horta nem sou pinguim?
Nessa perspectiva não sou normal..nem poderia ser .
O que é isso de vida normal? Alguém me sabe explicar?
Eu não sei !
6 comentários:
Se isso é ser normal então também não quero! :) Mas a "normalidade" é subjectiva.
Uma vez li uma frase do género: "Why choose to fail when sucess is an option". O êxito, nesta caso, vai ser a conclusão da Maratona, a sentires-te bem, dedicando-a a quem merece.
Penso que seja normal (lá está, "normal" :) ) teres esses dúvidas. Mas confia no treino e, sobretudo, na tua força mental. (Isto é conversa de amiga, já que nunca corri tal distância e, se fosse o meu caso, estaria uma pilha de nervos!)
Mas vou gostar de ler sobre o teu êxito, por isso falhares não é uma opção. ;)
Beijinhos e muita calma agora!
Caro amigo
Em primeiro lugar, confesso que dei uma gargalhada quando li a tua inocente frase "Prometi a mim mesmo não pensar muito na prova".
Deixa-me adivinhar... estás sempre a pensar... Pois é!
Quanto às dúvidas, é natural. Eu ando cheio de dúvidas e receios e daqui a um bocado alguém me bate por eu desabafar que na volta não vou conseguir terminar.
Para nós é um desconhecido e, como tal, temos o direito a todas as dúvidas e medos. Sim, digo mesmo medo que é o que sinto. mas como costumo dizer, no medo temos 3 opções: Fugir, ficar imobilizados ou lutar. E eu sei o que vou fazer, tal como tu. Vamos lutar com todas as forças que temos e, principalmente, com as que não temos.
FORÇA RUMO À GLÓRIA!
(e na altura de muros, pensa "a dor é passageira, a glória eterna!")
obrigado a ambos
R: obg pelo apoio e pela coragem que transmites desse lado. esperemos que falhar não seja opção. Tu ainda te divertes a assustar ratos fluorescentes, já eu..por aqui invado casas de fé e ando a correr sempre com dor de cabeça de tanto bater o dente :)) Bj
João: meu caro amigo estamos esta fase final e sabes bem o que sinto, a ansiedade aumenta e toma conta de nós se não tomarmos a iniciativa de a afastar. Como forma de a evitar, prometi não pensar no assunto e até ía mt bem até hoje. 10 dias ( 240 h)!!!
Bolas..tens toda a razão corajoso não é aquele que não tem medo, corajoso é aquele que vence os seus medos !! é o que temos que fazer..abraço e bons treinos.
Esqueci-me de responder à pergunta: "10 dias uma eternidade ou piscar de olhos?"
Sabes qual acho que seja a resposta correcta? Ambas!
tambem acho que ambas estão certas é tudo uma questão de prespectiva.
mas sabes o que temos por garantido? uma grd manha de dia 9 que a vai tornar única e inesquecível.
que a força esteja connosco!!
olá Jorge, gostei e identifico-me em tudo neste post. Loucos com todo o gosto. Boa maratona no domingo.
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