"La familia" quasi mi uccide

Caro diário de corridas

Faltam 64 dias para a Maratona de Badajoz.

     Depois de Lisboa a 9 do mês passado, arrisco fazer a maratona de Badajoz, sem nenhuma razão em especial.  Mas gostei da experiencia e quando assim é repete-se. 

Á semelhança da maratona anterior, tive que me auto-disciplinar e promover uma agenda coerente e acessível que me desse garantias de que iria chegar “vivo” ao fim.

          Um plano sem grande rigor (até porque nunca fui, nem sou, um verdadeiro atleta) mas que permitisse ir registando todos os treinos, evoluções, recaídas, métodos, uns mais outros menos ortodoxos mas que funcionaram apesar dos efeitos da lesão se terem manifestado no último terço da prova. Creio que terá sido a esta distância que comecei também a ter mais cuidados com a alimentação e sobretudo com o descanso, bebi centenas de litros de água extra para manter os níveis de hidratação desejados, apesar do frio glaciar das madrugadas lusas, experimentei equipamentos e fiz provas mais ou menos comerciais o que até então era raro, sempre corri e treinei com muitas pessoas mas não gostava das provas em si. Achava que quem gosta de correr não precisa ir para longe nem gastar dinheiro. Hoje reconheço que não é assim. Treinar é uma coisa e competir é outra, mesmo que o meu adversário seja “Eu”, os meus limites a minha capacidade de suportar durante tantos quilómetros a dor e distância. Cheguei á conclusão que sou o meu melhor adversário mas também o meu mais temível competidor. Aprende-se muito nas provas, conhecem-se pessoas novas e interessantes e trocam-se experiencias. Andava farto de correr sozinho, de percorrer os mesmos trilhos, as mesmas ruas, ver as mesmas casas.
Sei que ainda vejo as provas como treinos, e tenho consciencia do que sou, das minhas capacidades e limitações. porém hoje sinto necessidade da adrenalina que as provas nos dão, por exemplo antes da prova de Lisboa, parecia um miúdo nervoso a olhar para o calendário e ansiando pela abertura do novo ano lectivo numa escola nova. Sempre fui assim, meio ansioso meio seguro, quem me conhece acha que sou um pliar de uma ponte, no entanto abano tanto que essa ponte mais será daquelas dos filmes do chuck norris ( vietname e de corda) Actualmente e já com uma data de provas no curriculum, sinto-me muito mais confortável com os desafios apesar dos sintomas dos últimos dias antes de cada uma serem o mesmo, mais que defeito é feitio.

Mas se há coisa que nunca falhei foi na dedicação e na preparação, pois para mim a prova começa muitos antes. e dependendo do objectivo, uma prova prepara-se como nos bancos da faculdade com semanas, meses antes “ falhar a preparar é preparar para falhar” acho !!

         Como prometi irei dar diariamente conhecimento dos meus treinos, evoluções, modelos e planos de treino, alimentação e desta vez irei também utilizar suplementação que sempre evitei  mas é necessária.

Tenho mais um par de sapatilhas e a mesma vontade de sempre de correr.

 Ontem decidi treinar,  sem orientação do "polar" tinha decidido que seria curtinha e 45´seriam suficientes. mesmo sem o relógio não falharia por muito, pois conheço tão bem as voltas que dou habitualmente. Tenho voltas para ½ hora,  para 1 hora e até mais..bem mais..

         Depois de ter feito cerca de 6-7 km ( 30 minutos +/-) e de regresso a lá maison , quem vinha em sentido contrário com o diabo no pêlo? Os meus amigos Almeida e Inês ( pai e filha) ambos atletas de pergaminho e que saíram para a sua romaria diária.

Cumprimentos e votos de feliz ano..

- Então Jorge , vai acabar a sua corrida?
-  por acso já vou com ½ hora e pensava ir pra casa, onde vão?
- quer vir connosco? é sempre um prazer a sua companhia..dá mais 30-40 ´
- podemos ir..( neste momento senti um arrepio na espinha e não era frio maldita simpatia inata)

 inverti o sentido da marcha e regressei ao Casal do Marco, senti um ligeiro alivio quando o pai me informou de uma recente lesão nas costas..entre um misto de pesar e satisfação mesquinha..perguntei

- ai sim e foi do quê? Jeito que deu? e a fazer contas de cabeça que hoje temos " promenade" .
- Foi jeito que dei ( respondeu)
A partir daqui começou a falar incessantemente sobre as costas, os pés, os tornozelos, as lesões ..!! tem um pulmão fantástico este homem.

continuámos, Casal do Marco virámos agulha para Paio Pires (pequena freguesia do concelho do seixal mais conhecida por albergar no seu território a famosa Siderurgia nacional),

Chegados ao Coreto no pequeno jardim central , virámos á esquerda e aproveitámos uma longa recta que nos conduziria á estrada que liga Paio Pires ao Cavadas, viragem á esquerda em ritmo sempre acelarado...só pensava "- ainda bem que não trouxe o polar senão assutu-me e dou já a bufa", mas conheço o meu passo e ia abaixo dos 5´de certeza entre os 4,30” e os 4,40”

Os kilómetros sucediam-se e eles não abrandavam  nem transpiravam ??? eu ia de impermeável por causa do frio e uma t´shirt por baixo deitava água por todos os poros.

até ao Cavadas ainda são uns bons 2 kms , sempre contra o sentido do transito seguiamos em fila acelerada até que virámos á esquerda e apnhámos a subida ao pé da escola secundária Dr Alfredo reis Silveira, Lidl , Torre da Marinha , alto dos Bonecos ..o ritmo não abrandava o Almeida faz a festa e a filha lança os foguetes..eu? nem apanho as canas nem bato palmas

Casal do marco felizmente os sinais de transito da EN10 estão a fechar, fecharam ehehheheh 30” de repouso para respirar, abriram e saímos disparados em direcção ao Pinhal de Frades, pergunta-me como correu a maratona de Lisboa, respondo em silvos de ar que: “ bem-.obrigado!”

 Passados mais uns segundos.” 4h e 12 minutos creio.”…mais uns segundos…” foi fixe”

     Faltam 2 km até casa, os bofes já os empurro pra dentro a murro, passamos a ponte do comboio e á sua frente uma subida por cima da A2 que faço sem dificuldade, a filha dá sinais de cansaço e fica ligeiramente atrás eu acelero e sigo á frente a ombrear com o atleta decano..descida.. a Inês cola-se como uma lapa, sentia a sua respiração por cima do meu ombro..diz que fica por ali que vai para casa, mas o pai convence-a que mais 1 km até minha casa e vamos devagar..mas não abranda .. Colo-me á sua figura de 1, 60m e de 56 kg e apenas vejo as solas dos ténis, parecem brilhar no escuro, a filha vai ligeiramente atrás nem a oiço. 400 m faltam até acabar o suplicio, eu aguento como posso, 300m acelerou sinto que se afasta e eu não abrandei..sigo-o a um ritmo desconhecido, a Inês solta um suspiro ( até que enfim ..afinal é humana) 200m acelerei eu..(a vingança do macaquinho do chinês) se mexes eu acelero.., ele reage..está ao meu lado…tenta passar-me é o passas!!

Afinal está a entrar na minha rua, aqui mando eu!! Últimos 100 , 80, 70, 50m começo a despedir-me em Neandertalês ( grunhidos) ..hi-five e siga a marinha ..Acabou!

 

Eles seguem devagar e prometem de que amanha há mais..(pois há então não há?)
entro em casa a rir e a pensar que nunca mais tenho juizo, enquando dispo o casaco o suor cair em pesadas gotas..a t´shirt está tão encharcada que parece sair da máquina.

Estão menos de 10ºc e eu encharcado em suor

 

Resultado 6 + 8 (14 km)

Tempo dos primeiros 6 km ( ½ hora ) 5`,00”  / km  ( apróx.)

Tempo dos segundos 8 km (35´) 4,22” / km  ( tempo confirmado pelo sr. Almeida que me ligou )

Total 1h e 5 minutos para 14km ( apróx. ) fonte google earth :)

 

Média do treino acompanhado:

Pace: 4:22 min/km    Velocidade Média: 13,71 km/h