terça-feira, 19 de março de 2013

A internacionalização das sapatilhas (Badajoz 17 Mar 2013)



No rescaldo da minha 2ª maratona de estrada.

 

Depois de Lisboa em Dezembro do ano passado e de algumas provas pontuais como a S.Silvestre de Lisboa, 20 km de cascais, o G.P do Atlântico, a Corrida das Lezírias, arrisquei a Maratona de Badajoz.

A expressão “arrisquei” assume especial importância pois ao contrário da maratona de Lisboa a 9 dez 2012, a minha fase de preparação foi drasticamente reduzida, sendo que nas ultimas 3 semanas não fiz um único treino e as provas que fiz, acabei sempre com muito esforço, nomeadamente os 15,5 km das lezírias a deixar mossa nos dias que se seguiram. Não sou propriamente um Homem com muitos medos mas confesso que só fui a Badajoz precisamente pelos compromissos assumidos e pela vontade indomável que qualquer maratonista tem que ter. Saímos de madrugada e a viagem apesar de não ser muito longa sempre requer pelo menos 2,30h até ao hotel em Elvas. Reencontro com o resto da equipa acabámos por tomar todos o pequeno-almoço e levar reforço para pós-prova.

Com a diferença horária não quisemos arriscar e fomos mais cedo para Badajoz, á entrada verificámos que a organização ultimava os preparativos e fechava ruas e avenidas, deixámos o carro em frente a Biblioteca publica um enorme complexo todo modernaço e garantidamente maior do que seria necessário para uma cidade raiana com pouco mais de 150.000 habitantes. Parqueamos facilmente e á borliú e fomos ver a fiesta. Numa artéria paralela ao Guadiana de nome "Passeo Fluvial" onde estava instalada a meta de ambas a provas, a ½ maratona e a prova principal dos 42,195m. Muitas caras conhecidas de outras bandas, como a nossa Analice Silva uma Matriarca de "M" muito grande e cuja estória de vida dava um livro, o José C. Melo dos Run4Fun, Chantal Xervelle, Cármen Henriques (CPA) Custódio António (CPA) e tantos outros que por má memória não me recordo dos seus nomes.

A enorme quantidade de Portugueses realça a importância da relação entre os 2 povos irmãos. Mais de 150 atletas lusos entre 665 no total é obra (acresce dizer que havia prémios monetários ;)))

Os espanhóis não sendo o melhor exemplo de organização, se há coisas que levam muito a sério são as horas e a hora da partida e fecho de provasestão na listagem. Pontualmente ás 09,30h hora local (08,30h nossas) foi dado o tiro de partida para a XXI Maratón Popular Ciudad de Badajoz. A saída foi muito rápida ao contrário de Lisboa que é uma prova muito maior com muito mais aderência de atletas internacionais e nacionais, saímos em direcção á puente Universidad, depois de cruzado o Guadiana virámos á esquerda na rotunda e entrámos numa avenida muito comprida Av. Adolfo Diaz Ambrona com várias rotundas á boa maneira cá do burgo, Av de Elvas e seguimos sempre em direcção ao parque industrial da Cidade e também caminho para Portugal ( 5km) o retorno com leitura de chip deu-se no final da avenida e o regresso fez-se pela via contrária, bem sinalizada e bem policiada a prova ofereceu sempre segurança quer a atletas quer a condutores graças á enorme simpatia que os espanhóis têm pelos atletas quer pela organização que previu pontos de passagem e garantiu sempre elementos da organização presentes em cada local de travessia. O regresso á outra margem foi pela outra ponte ( Puente de Palma) sendo que seguimos pela calle Manuel Saavedra martinez , virámos pela Av. Augusto Vasquez e atravessámos a enorme ponte pedonal que tem um aspecto espectacular onde se encontrava um batalhão de apoiantes que não se cansaram de bater palmas a quem passava fosse ele o 1º ou dos últimos, á esquerda entrávamos na calle Valladolid que conduziria ao extremo da cidade, uma zona mais residencial e onde populam bairros de construção económica com moradores não menos entusiastas á passagem dos atletas “la fiesta” se fazia das janelas com enorme apoio e sempre um “ Animo” “fuerza” :
  Tinha decidido fazer uma prova mais com a cabeça do que com o coração, sabia a miséria de preparação, estava a recuperar de semanas de enfermidade e de exames chatos como tudo. - " calma Jorge com Cabecinha e acabas isto”  marquei um ritmo no relógio para andar devagar na fase inicial, pois sei que é fácil entusiasmarmo-nos e depois a factura paga-se e de que maneira..A prova é de fácil retrato pois são 2 voltas aproximadamente iguais, sendo que a 2ª tem mais uns 250 m para totalizar os 42,195m da IAAF. A primeira volta foi feita num ritmo muito acessível de 05,32´ / km passei pela primeira vez na meta com 01:55:39 e sentia-me muito bem. Nesta altura acompanhado por um colega de equipa (José Matos C.P.A) e de uma atleta de Portalegre Catarina Ladeira (os meus parabéns pela excelente prova).

 

Na segunda passagem pela Puente Universidad senti algo estranho acontecer em mim, uma quebra súbita de força, tomei desesperadamente um gel e esperei que não fosse nada, mantinha o ritmo com dificuldade, tinha vindo sempre a liderar o trio de maratonistas desde o inicio e agora sentia-me a perder as forças. Não sentia dores (ainda) mas não conseguia manter o ritmo proposto de 05;30 /km. Ao km 27 senti que tinha de abrandar,  mandei-os seguir pois precisava de recuperar no abastecimento seguinte. Parei e bebi um copo de isotónico sem me preocupar com os segundos perdidos, abri uma garrafa de água e emborquei-a de uma vez. Retomei a corrida bem atrás dos meus companheiros que se afastaram umas dezenas de metros. No retorno já com o vento pelas costas tentei aumentar a velocidade e recuperar lugares. Em sentido contrário cruzava-me com o enorme pelotão que se estendia pela faixa contrária ainda uns quantos kms atrás de mim, mesquinhamente fez-me recuperar a moral. Sentia o depósito a entrar na reserva, comecei a sentir dores nas pernas, nas coxas, no músculo vasto lateral, no musculo recto da coxa, em suma tudo me doia ..ainda do outro lado da avenida ainda em direcção ao 2º ponto de retorno vinha o carro vassoura a fazer guarda de honra aos atletas retardários ( grd pressão) não sabia mas eles tinham pontos de fecho da prova a cada km, e o regulamento ditava o fecho da prova ao fim de 5 horas e nem mais 1 minuto (14,30 hora local)
 



A cada 2,5 km ou seja a metade dos abastecimentos de líquidos, haviam pequenos ( P.E) com esponjas encharcadas em água, num deles perto dos 30km agarrei na esponja e fiz uma rápida e vigorosa massagem nos gémeos, o tempo ameaçava chuva desde o inicio mas apesar das nuvens negras de sul mantinha-se sem chuva.. km 32 um choque percorreu-me o gémeo da perna direita, que saltitava como se fosse uma peça dos flippers “-  impressionante…” parei esfreguei-o e bati com o pé no chão algumas vezes para o pôr no lugar, não me doía muito ou se calhar já não sentia , nesta altura chovia e fazia trovoada, remeti para um choque térmico a desgraça em que me encontrava, sou passado no final da calle José caldito Ruiz por uma colega com uma camisola com a nossa bandeira cozida nas costas creio que se chama Sofia Roquete da Atiba, um aspecto curioso: Nesta altura chovia muito, devagar passou por mim sem que eu pudesse reagir, afastou-se alguns metros e segui-a a uma distancia curta, não me queria afastar , aquela visão da bandeira mãe dava-me a motivação perdida, nisto um relâmpago enorme surgiu e ela parou de imediato, começou a caminhar e apanhei-a, dei-lhe a minha mão puxando-a “- vamos, não pare agora!! ” ,  “é Português ..Olá ..vamos!” seguiu atrás mim e na subida começou lentamente a ganhar ritmo e foi-se afastando á minha frente sem antes me ter agradecido e sorrido, a ultima subida é enorme e estava á minha frente, não que fosse muito inclinada mas era muito extensa de nome Ctra Madrid parecia interminável, o meu ritmo e dos que iam á minha frente roçava o ridículo era demasiado lento para ser verdade, novo P.A agarrei num copo de bebida isotónica “ Aquarius” e numa garrafa de águas que despejei pela perna direita,  não olhava para o relógio, e sabia que faltavam ainda alguns kms 7-8-9 não queria saber, passava-me tudo pela cabeça, coisas do estilo “ As dores são passageiras mas a glória é eterna “ , “ dos fracos não reza a História” , “ és maratonista e sabes que não há maratonas sem dor.” “ se fosse fácil estariam cá outros e a maratona era um passeio domingueiro..”  , “ estás  a representar o teu País vais ser medalhado e serás internacional” é engraçado como o facto de andar alguns kms fora de Portugal nos provoca estas reacções pátrias,,” ficaram com Olivença , mas com a minha medalha não ficam..” por aí!!

Quando terminei a Ctra Madrid, virámos aá direita em direcção ao centro da cidade na calle Corte de pelleas..uma descida abençoada, atravessei a Av. António Cuellar Gragera, Ronda Pilar, Av Cristobál  Colón, Godofredo Ortega Munóz nesta avenida o que me ri com o nome, desde miúdo que me griso todo com o nome Godofredo, bem sei que são palermices mas tem piada.."O Godofredo tem um cú que até mete medo,,” naquela desgraça Franciscana (Viva sua santidade o Papa Francisco) e a rir-me de um nome ..Realmente a falta de açúcar provoca "ainda mais" ataques de parvoíce na minha pessoa.

Acabara de entra na Av. Puente real estava quase, á minha frente vinham 2 atletas num sofrimento que só visto, um que era de Tomar (Português) e outro de azul que mais parecia ter sido empurrado de uma montanha russa (espanhol) no desporto apesar da competição não há nacionalidades no sofrimento e na solidariedade, ao passar por eles toquei-lhes nas costas e disse “ está quase força..” o espanhol nem com umas sevillanãs em desfile da victória secret levantava o olhar do chão, mas levantou a mão em agradecimento e um hi-five sentido..calle republica Domicana a ultima recta antes de virar á esquerda e entrar no passeo fluvial onde estava a meta..entro nos últimos 200m e começo a ver o pórtico com a speaker a anuncia “ Y com el dorsal numero ciento e três Jorge Góis..”  cruzei a linha e recebi uma medalha engraçada com a inscrição FMD XXI Maratón Ciudad de Badajoz e no verso a PUENTE DE PALMAS aquela que é pedonal e deve ser antiga como o catano.

 

Dirigi-me para a barraca dos bolicaus e despachei logo 2 , no primeiro ( com a ganância) amandei uma dentada num Tazo que até estalou..bolas"lembrava-me lá eu que metem moedas de plastico nas embalagens?"  Bebi um powerrade azul e dirigi-me ao carro, o meu colega de equipa e de prova tinha chegado 3 minutos antes mas ía com um andar diferente..novo! ahahahahha, mudamos de roupa e fui até á tenda da Cruz Roja para uma massagem, a simpática mandou-me deitar de barriga para baixo e meus amigos se não morri ás suas mãos devo chegar aos 100 anos ( é perseguição)  nem imaginam o que passei nas mãos daquela Chica. Ainda a avisei por 2 vezes á 3ª disse-lhe que estava bom ..ela ria e dizia que tinha uns nódulos que tinha de desfazer, porra pra gaja mais o raio..!! o que é certo é que depois daquela provação senti-me melhor e até ainda tentei correr para o carro, o Sol brilhava alto (claro! como já me podia resguardar  não chovia) fui para uma escola ver a entrega de prémios quase todos atribuídos a Portugueses ;))))

 

E voltámos a casa, não sem antes comer umas bifanas em Montemor e umas cervejas pretas.
No Place like Home !!

Pró ano…?

 








Humm….acho que não , pelo menos por agora !

7 comentários:

Pedro Carvalho disse...

Grande!!! Parabéns Jorge.!!!
Invejo-te, ainda só tenho uma maratona. ;)

JoaoLima disse...

Grande Jorge!!! A tua primeira foi só há 3 meses e já está acompanhada por outra! Espectacular!!!

Um grande abraço de parabéns!!!

Carlos Cardoso disse...

Parabéns Jorge. Acabar uma Maratona com a preparação que (não) fizeste não é para qualquer um.
Abraço e boa recuperação

Tigas disse...

Muitos parabéns internacional Jorge.
Excelente relato da maratona.
Abraço e uma boa recuperação.

Jorge Goes disse...

Obrigado Pedro.
Pois é meu caro foi a maratona da internacionalização, está feita mas foi um valente empeno. Paguei a factura de semanas doente.
Abraço e bons treinos


Obrigado João,
Ainda foi há tão pouco tempo. Sabes que muitas das emoções vividas na “nossa” 1ª maratona vieram ao de cima e até foram semelhantes na forma como as encarei.
Estava muito mal preparado e paguei caro, hoje recomeço a pensar na 1ª ½ de Almada.
Abraço e até um dia destes por aí :)


Obrigado Carlos,
Não foi nada fácil, ao falhar na preparação corri o risco de não a terminar. Valeu o espírito e a força de vontade que me permitiram fazer das tripas coração, deixando para último lugar o tempo de prova e preocupar-me em acabar a prova.
Abraço e bons treinos

Obrigado Tigas,
Está feita a internacionalização ainda que seja a poucos kms da nossa Pátria..:)
Apesar de ser a minha 1ª participação fora, aquilo que mais diferença notei é na forma como os espectadores apoiam os atletas. São muito activos nas palmas e palavras de incentivo.
E apesar de sermos Portugueses eles apoiam e não me senti discriminado em função da nacionalidade.
Abraço e Bons treinos

Corre como uma menina disse...

Olá Jorge! Gostei muito de ler o teu relato, lembras-te de bastantes pormenores, entre os quais os nomes das ruas!! :)
Pena teres sofrido um bocadinho, pero sin dolor no hay gloria, e a segunda já está!
Já vi que tens sina com as massagistas... ;)

Parabéns!

Bjs

Jorge Goes disse...

Olá R,
corro tão devagar que reparo em tudo :))
se soubesses o que passei nas semanas antecedentes. Aconteceu-me de tudo!!

já viste num espaço de 3 meses :)

sabes começo a acreditar que existe um complôt organizado das massagistas.a brincar eu é que sou uma flor de estufa e não me podem tocar..

Bjs
e que melhores rapido para arrasares dia 24.