terça-feira, 24 de julho de 2012

A Ultramaratona Atlantica de 2012


Decorreu no passado Domingo mais uma Ultra-maratona Atlântica antigo raid Tróia- Melides. Quem me conhece sabe o investimento que fiz para que a minha 2ª participação fosse um sucesso, mas estamos a falar da U.M.A e não pode haver veleidades pois prega-nos a partida e não há previsões que resistam á força da natureza. Levantei-me como sempre tranquilo para a grande epopeia. Tudo preparado desde o dia anterior comecei a organizar-me mentalmente sobre as prioridades, Hidratação, alimentação, protecção solar, equipamento, comunicações e dinheiro para os transportes. Pequeno almoço tomado, á base de hidratos, leite e mel..ida ao WC..e nada !! mau, então? Querem ver...continuei na esperança de me sentir aliviado, mas nada de vontade..siga!! Tinha combinado encontrar-me com mais pessoal por volta das 5 h ao pé da padaria central e não me podia atrasar, mas a ideia de não fazer, remexia comigo. Viagem tranquila, chegámos a Setúbal, estacionamento fácil e perto do Cais. A visão inicial da prova com muitos já preparados e de mochila ás costas. Ser ultra maratonista tem destas coisas, temos que levar a casa ás costas. Esta prova começa com a canseira da logística, comprar bilhete pró barco com mais de 30´de pé em fila única, pois as máquinas de venda automática não davam conta do recado, valeu por volta das 06,10´h  a abertura da caixa manual e lá aliviou a fila que já era extensa e demorada. As primeiras figuras de míticas lá se viam a Analice, Mário Lima, Joaquim Adelino, Luis Parro, e muitos outros conhecidos e amigos. O barco saiu á hora marcada 06,20h, desembarque no cais antigo, agora uma marina 5* e á nossa espera o transporte para Melides, autocarros alugados pela CMG que nos levariam até Melides. Quase 1 h de viagem por apenas 2€ se fosse uma excursão até que era barato mas para quem já tinha despendido 20€ na inscrição acho absurdo. Segunda observação é a falta de WC portáteis no local de partida, subi o morro para urinar e ver um mar de rabos alvos a espreitar por entre as moitas, um espectáculo de aflitos não lembra ao diabo, mas enfim larga lá os fluidos ó rapaz.. Nova fila para levantar dorsais com a novidade de incluírem o chip dentro de umas esponjas coladas ao mesmo..entrega da água 1,5l, 2 cubos marmelada, 1 gel, 1 barra energética e uma t-shirt técnica sem logotipo alusivo á prova mas como é da Asics. Pareceu-me estranho não referir a prova nem ser finnisher nem nada ..Asics trail circuito e …é só. Enquanto enchia o bidon de água olhava para aquela sombra escura a norte (Arrábida) e recordava que era lá a meta..a 43 longos e deliciosos km deste lugar, altifalantes ligados e sai Briefing com piadas á mistura para despertar a malta , alinhamento no pórtico e ..e….e….O tiro  não sai!! a pistola de alarme encrava eheheheh, 2ª tentativa e o grande Carlos Lopes já ria…nada ..Recarrega e BUMMM…arranque para a 8ª edição da U.M.A 2012, desta vez o sol ás 9h já se fazia sentir nos lombos da malta corredora e de que maneira.

        Para mim os primeiros kms são um verdadeiro inferno, a areia sempre muito mexida e sem vias para correr em plano horizontal optei por ir junto ao mar, molhando as sapatilhas logo ao fim de 500m, mal meti o pé em esquerdo dentro de água, pensei já estás ..insisti,  subi ligeiramente a duna e tentei esquecer o sucedido, mas correr assim era ainda pior,  subi a totalidade da duna e tentei correr em plano direito mas em areia solta e muito leve..nãaaa vamos mas é para baixo e mesmo molhado é preferível..continuei, aqui ia com um ritmo bastante confortável e sem muitas pressas ainda que quisesse passar com menos 15´na 1ª bandeira dos 5,5 km que fiz o ano passado (passei com menos 18´)  mas não entendi a necessidade na praia nova do controle do chip ser em cima da duna e obrigar-nos aquele esforço adicional , gente doida pensei logo.. Continuei mas sem deixar de protestar..



Aquilo que mais recordo nos kms seguintes foi a enormidade de embalagens vazias pretas com letras amarelas e ampolas? Mas o que é que esta malta toma? Garrafas de todas as medidas e até sacos?Uma javardiçe. Apesar da organização garantir um staff de 120 pessoas, motas, e sei lá mais o quê..onde estavam os sacos ao longo das praias ..a repensar, ahhh e quem joga lixo para o areal deveria ser automaticamente desclassificado. Recordo tb a ausência de motos que acompanhassem os atletas de pelotão, fiz muitos kms sem sequer me aperceber de qq membro da organização se for assim pra próxima acredito que há quem magique um plano de evitar andar com tanto peso á ilharga. Como sou repetente na prova conheço alguns atletas , pessoas que estimo e respeito, não por sermos todos um pouco loucos mas porque são homens e mulheres extraordinários,  juntei-me a certa altura ao Luis parro e fui uns kms a acompanha-lo mas como ele próprio afirmou “ainda não se tinha encontrado” e disse-me para ir dado que estava melhor e segui. Continuo a achar que não existe mais união e solidariedade do que nas provas ditas amadoras e sobretudo nas de longa duração. Um reparo, a cultura desportiva na sociedade Portuguesa também não é a melhor, pois não é todos os dias que vemos ultra maratonistas a competir e as pessoas nem reagem, continuam a jogar á bola sem a preocupação de arranjar um corredor para os atletas passarem em segurança , não há um estimulo ao aplauso á motivação, total indiferença de muitos, mas as poucas que o fazem, fazem-nos esquecer as outras, a elas o meu obrigado.


Km 20  e continuava bem e fisicamente consistente, mas o estômago…esse queixava-se de uma ida rápida ao WC , agora? Aguenta-te !! Transpirava em bica a ponta do boné parecia uma caleira ao fim da chuva sempre a deitar gotas, por diversas vezes e porque a mioleira escaldava tirei o boné e corri com ele na mão. Uma das principais características da prova é a “ autonomia” , repito “ autonomia” mas afinal o que é isso?  Andar com tudo ás costas seja água, comida, tudo..somente aos 28,5 kms a organização disponibiliza 2 garrafas de meio litro ( que são de 0,33 l) e mais nada..desta vez e pq se aprende sempre com os erros , este ano levei apenas um cinto de hidratação com 1 bidon de ½ l + 1 garrafa de 0,26l , mas na hora da partida optei por levar tb 1 garrafa de 0,75l na mão..esta chegou até aos 28,5km pelo que pró ano..é só que vai. Se tiveres sede tens muita água á esquerda ;))


Contrariamente ao ano passado, ia mais preparado, mais leve 10 kg  e com menos água em 2011 sai com 4,5l  devia pensar que ia fazer a Marathon de sables em Marrocos. Bem, como foi a minha 2ª participação e pensava já dominar as areias, impus – me objectivos mais ou menos exequíveis pois pensei fazer entre as 4,30 e as 5h e não falharia muito o objectivo se não me tivesse lesionado após a comporta entre os 28,5 e os 30km. Sem recursos e com o joelho direito feito num trapo regressei ao abastecimento pois as motas passavam mas nem um parou. Mas como me lesionei? Lá está a falta de um corredor de segurança em praias de maior movimento, antes da comporta e já a ver o pórtico branco a menos de 500m eis que ando a escapar de buracos no chão feitos pelos apanhadores de cadelinhas parecia as ruas de Bagdad logo após o bombardeamento aliado. E os pseudo-futebolistas de fim-de-semana? Que trocam bolas e boladas sem olhar para onde e se julgam donos do espaço correm para todo o lado e nada vêem. Veio um chocar comigo e mesmo em cheio num joelho massacrado e que não merecia tal desfecho. Pedidos de desculpas nada resolvem. O joelho queixava-se e a prova viria a acabar em breve.

Policia marítima passeava-se de moto 4 e no mar numa lancha rápida, porque o importante era a emissão televisiva na praia do carvalhal e o João baião na rtp 1 ..Uma prova destas única na Europa e 2ª do mundo..tão mal retratada pelos media…



Na Comporta fui assistido por uma enfermeira, que me aplicou o cloreto etilo na perna e ligou-me o joelho imobilizando-o, estive 1 hora e tal para ser transportado para Tróia onde ainda andei ao pé coxinho quase 1 km até á meta..

Levantamento de um saco vermelho “ Edp” que creio nem seria patrocionador da U.M.A 2012, com uma manga da Asics , revistas da Sport Life, e outra de atletismo , mais publicidade a provas da Xistarca e baza..



Nº 48 para massagens, guaraná bem fresco no bucho e regresso a casa com mais um “estória” no bolso para contar



Em 2013??



Lá estarei !!!

2 comentários:

Alexandre Duarte disse...

Olá Jorge
Não é apenas uma visita de cortesia, é a curiosidade que procura outros relatos de quem como eu também lá andou, na esperança de haver alguns pontos coincidentes, para livrar a consciência de algum excesso provocado pelo relato ainda a 'quente'.
Começo por lamentar o desfecho desta sua 2ª participação na UMA. Nós, os chamados 'corredores de pelotão' investimos tanto em cada prova que depois sabe muito a efémero. Quando acontece uma desgraça como a que relata é ainda pior.
Em 2010, na minha 1ª experiência, cheguei aos 20Kms e concluí que me tinha enganado e que aquilo não era de facto a Meia Maratona da Caparica. Fui a passo até à Comporta e sentei-me à espera de boleia. A m/desistência deveu-se exclusivamente a falha na m/preparação. A desistência do Jorge deveu-se a puro e duro azar. É preciso realmente muito azar para depois de muitos treinos e muitas horas investidas, vir um banhista contra nós numa praia qualquer é realmente muito azar.
Ao ler o seu relato da lesão e da desistência, identifiquei-me por completo com o que se passou comigo em 2010, em que fiquei na Comporta mais de 1 hora à espera da carrinha. Depois qd ela finalmente chegou lá me levaram para Tróia, juntamente com os outros desistentes e depois é o calvário dum gajo, completamente na 'fossa' devido à situação de estar desistente, ter de fazer aquela via sacra toda para ir levantar o saco com a roupa. Como percebi bem o seu relato deste episódio.
Quanto à t-Shirt, continuo a não perceber estas organizações que se preocupam por exemplo em comprar a alguém t-shirts de gosto e design muito discutíveis, t-shirts que o pessoal como eu já recebe há cerca de 25 anos e que acabam invariavelmente no fundo duma gaveta ou mesmo no lixo. As da UMA de 2010 e 2011, como identificavam a prova, facto que me orgulha porque não é realmente algo que esteja ao alcance de todos, até as tenho ainda guardadas, mas esta, que recebi no domingo passado, possivelmente irá forrar o colchão do meu gato gordo 'Orpheu' ...
Depois o público. Jorge, o público português, é de um modo geral triste e enfadonho. Assim de repente apenas me lembro de algum calor na Corrida das Fogueiras, porque são pessoas descomplexadas na sua maioria, que habitam aquela simpática Peniche e que realmente dão outro calor à prova. Até na Nazaré, onde dantes se viam as gentes da terra a encher aquela marginal, hoje em dia tenho a impressão que são apenas os acompanhantes dos que lá vão correr que lá estão e claro, aplaudem e incentivam exclusivamente os seus.
A questão dos abastecimentos não teve tb para mim qualquer questão. No 1º ano ainda levei mochila. Era o 1º ano e levei coisas que nem consumi. Em 2011 levei apenas o bidon (500ml) + 500ml na mão e chegou perfeitamente. Aqui joga a experiência e mesmo com o calor que se sentiu mais este ano, 1 lt de água dão à vontade para os 1ºs 28,5Kms.
Neste aspecto ainda na camioneta de Tróia até Melides falava eu com o Fernando Andrade e lhe dizia que em minha opinião se deveria voltar ao figurino doutros tempos, do então Raid Tróia-Melides, em que a prova começava em Tróia e era feita em autonomia total.
Agora cada vez mais a organização se molda ao fácil. Virou o sentido da prova para o pessoal ter o mais difícil ao início, dão água a meio da prova, ajustam a data da prova para a fazer coincidir com a melhor maré possível e já há quem reclame, no bloque da UMA, abastecimentos de 10 em 10Kms ...
Qualquer dia é como alguém já escreveu, começam a fazer a prova com o carrinho do bébé...
Cumps Jorge

Jorge Goes disse...

Viva Alexandre, obrigado pelo seu post é sempre bom quando aqueles que nos lêem sabem o que nos vai na alma, de facto esta minha 2ª participação na U.M.A ficou registada pelo azar. Creio que estava tudo a correr demasiado bem, uma pista excelente, sem vento, calor mas suportável, tinha água, não me sentia nada cansado. Mesmo quando passei pelo Luis Parro estava mt bem, realmente não esperava aquele acontecimento. Já durante a semana anterior sentia ligeiro incomodo no joelho direito mas nada que me preocupasse em demasia até porque fazia gelo e mantinha o joelho imóvel e sem dor. No dia da prova até comentei com os Colegas Marco Mendes e Luis Conceição de que estava admirado de não sentir nada, nem dor nem calor..nada!!
Os primeiros kms são como escrevi o meu maior suplicio, uma luta para me manter competitivo e focado pois a areia remexida e solta sem consistência obriga-me a fazer diagonais duna acima, duna abaixo, á procura do melhor piso e claro desgaste acrescido. Este ano á semelhança do anterior optei pela parte mais baixa e assim segui até ter que subir para ser chipado, esta situação já a retratei e confesso que não a entendi. mas é a UMA e como tal é diferente, o que mais retenho é a visão da serra da Arrábida aquela mancha escura, rasteira quase ao nível do mar e aquela praia imensa de areal dourado e limpo e saber que é tudo nosso e em Portugal. Com a descida da maré criaram-se condições únicas para acelerar e assim fiz sentia-me bem, apenas revoltado com as bisnagas e ampolas e sei lá mais o quê que ia encontrando episodicamente ao longo da praia. Acho tal como o Alexandre que a organização deve manter o actual modelo de prova, mas deve optimizar melhor os efectivo que fazem parte do staff, distribuindo-os melhor pelas praias, para melhor controle e coordenação. Penalizações para os poluidores e para aqueles que recebem apoio, criar corredores para os atletas com fitas de sinalização para passarmos em segurança, recordo que no carvalhal tive o 1º sinal de perigo qd passei a centímetros de um buraco feito pelos apanhadores de amêijoa. Pessoas que passam sem respeito mesmo á nossa frente que nessa altura não temos a mesma capacidade de reacção para nos desviar-mos, acho atmbem como ponto de reflexão que a organização deveria oferecer uma medalha ou lembrança ( no mínimo como em 2011) de artesanato local evocativo da prova e da zona até porque o objectivo é a promoção da costa Alentejana e da internacionalização da UMA e por fim alterarem a hora da prova para as 8h, não pelos mais rápidos ou pelos atletas de pelotão, mas por todos os que se juntam á festa dado ser uma prova aberta e terem tempos que os obriga a chegar muitas horas depois.
É apenas a humilde opinião de um atleta que adora a prova e faz tudo pela sua divulgação positiva. Se tudo correr bem lá estarei em 2013.

Abraço