segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ventos de Mudança


 


Apesar do próprio titulo sugerir não vou falar de crise, de manifestações, da incerteza instalada, nem de atitudes pró nem contra nada nem ninguém. É sobejamente conhecida a minha posição e não me dou muito bem em ambientes de crispação politica, onde á boa e velhinha maneira Portuguesa se larga muito rastilho mas depois fica tudo cada vez mais….Na mesma !!!!  ou melhor quem se lixa é sempre o povo enquanto continuar a acreditar nos Relvas, Sócrates e outros iletrados que desgovernam cá o burgo! não é preciso ser Dr. Ou Engº para se ser um bom politico, mas deve ser-se sério!!

 
             Vou falar da minha atitude em relação ao desporto e da necessidade que sinto de mudar algo ou alguma coisa. Poderá até ser a minha visão sobre o desporto ou como me vejo como praticante, mas algo tenho ou devo mudar.

Depois de décadas como atleta sinto uma necessidade de evoluir para um estágio superior ( seja lá o que isso for mas fica sempre bem escrever estas coisas)  claro que não aspiro a ser atleta olímpico, medalhado, atleta de inúmeros recursos e aclamado por multidões. O que quero dizer é que tenho que definir novos objectivos e parametrizar as linhas gerais para a minha condição de quarentão, que faz desporto diariamente e que se sente muito bem com os benefícios que o exercício proporciona. Conversa de cota? Nada disso! Muito pelo contrário.

 
Tem que ver com a saturação e com a disciplina a que voluntariamente me submeti.

         Creio que o ponto de viragem será a prova da meia maratona de Portugal no próximo domingo 30 Set.  onde vou analisar a minha condição psicológica (porque a física conheço-a relativamente bem). Nem pensar armar-me em aos cucos e arrancar desalvoraçado com esperança em médias mirabolantes e tempos quenianos. Quero lá saber!  Mas também dizer que vou lá para curtir a festa e entrar no espírito da coisa que o que interessa é participar é mentira! Não sou assim nem nunca fui e não será agora nesta idade que mudarei. Sempre fui competitivo desde miúdo até a ver quem cuspia mais longe, desde que seja com fair-play e se jogue limpo. Para mim desporto é competição, é ficar á frente dos adversários que com as mesmas armas lutam pelos lugares, é uma disputa limpa com regras em que o melhor fica á frente dos outros. Ponto final paragrafo!!!
 (não é arrogância é mesmo ponto final paragrafo)
        - Mas também é uma batalha interior, uma luta contra as nossas capacidades e limites, ultrapassa-los é competir com o maior e mais temível dos adversários "nós próprios". (lindo qual Saramago qual quê? Qt muito Gabriel Garcia Marques ou Milan Kundera ehheh )

Posto isto, quais as minhas reais expectativas em relação ao desporto e para domingo?  Serão as mesmas de sempre ou não? Á partida seria de esperar que fossem de participar e enjoy the party!

- Divertir-me? Mas a competição retira a parte divertida da coisa!
Se tiver uma postura competitiva não vou poder apreciar a beleza do rio vista da ponte Vasco da Gama ( a ponte mais comprida do continente europeu) de curtir as inúmeras caras de pessoas estranhas mas com as quais sinto muita afinidade sem saber sequer o seu nome? De dar palavras de alento a quem precisa e sorrir e agradecer a quem apoia ao longo do percurso.

- Se pelo contrário for naquela de aproveitar a festa e rir e bater palmas ás bandas, de tirar fotos no final da ponte e olhar para trás e ver o tabuleiro da ponte pontilhado por inúmeras cores em movimento, como se as cores se separassem da tela e cada uma tivesse o seu próprio desígnio, mas ao cortar a meta vem-me á boca o sabor agridoce de podia ter feito melhor.

 

Neste caso, o pior é o regresso no metro e no comboio da ponte a ouvir as piadolas dos outros (aqueles que pesam em gramas as postas de salmão, esfregam as pernas com pomada antes da partida, usam umas camisetas de alças á campeões e os calções entalados nos ………sovacos de puxados que estão) que fizeram x e y e que são os maiores e tal,  ou ir á conversa com eles muito pálido e desidratado mas a bater os pézinhos de contentamento pela enorme taça de barro que levo no peito,querolá saber (mais uma vez)

São muitos anos e muitas estórias que dão muitas risotas, poderia estar horas a contar as peripécias e as aventuras que já vivi no desporto.

        - Dos treinos diários, de muitas vezes dizer que não tenho tempo mas consigo sempre ½ hora para um treino rápido de 5 ou 6 km a abrir (e ficar em êxtase porque sou um grande gestor do recurso mais escasso que existe) De muitas vezes andar de trombas e me mandarem treinar pois sabem que fico sempre feliz, de treinar á chuva ou sob um sol abrasador, de correr ultra-maratonas na praia e subir os picos mais íngremes com velocidade e agilidade, de correr em provas com milhares de pessoas ou treinar de madrugada enquanto todos dormem, de ser perseguido por cães ou correr atrás do relógio, de correr nas areias brancas de Cancún ou fustigado pelos ventos de natal , no frio de rachar Andorrano ou de provar as águas de coco geladas em Tibaú do Sul, de me perder literalmente nas planícies Alentejanas e beber as águas frescas de Loriga, de engordar 3 kg em 3 dias e da felicidade de os perder num só dia, de ao cortar a meta dedicar o feito ao meu pai e de abraçar um filho ao chegar. De dar a mão a alguém que precisa e fazer hi-five a um desconhecido/a que me dirigiu palavras de motivação. De lágrimas e sorrisos se entrelaçarem e das dores desaparecerem por magia.Tudo isso são emoções que vivi e quem pratica desporto sabe o que digo e sente-as como suas.   

 

 

Nesta fase da vida o importante é como me sinto a cada momento, como me sinto em relação ás coisas, ás provas, da preparação minuciosa e atenta ao percurso, das necessidades previstas, das cautelas alimentares e de descanso, das regras básicas da hidratação. Tudo conta para que continue a amealhar participações e ser finalista em todas elas.
Competir e divertir fazem ambas face de uma só medalha e são indissociáveis á minha personalidade. A satisfação de participar competindo comigo mesmo é maior se acabar a sorrir.

Só assim faz sentido, por isso mudar algo ou alguma coisa será muito difícil porque retira a essência daquilo que sou..

Um tipo genuíno que gosta de ser assim ..como é..simples!!!!


2 comentários:

Corre como uma menina disse...

Belo texto! :) E uma bela imagem da ponte para o ilustrar.
São sentimentos divididos...
Eu diria que corro pela diversão (se é que correr durante tanto tempo possa ser considerado "divertido". É mesmo de doidos!) e não pela competição VÍRGULA. :)
Vírgula porque, se não fosse um bocadinho competitiva, não participaria em provas. Mas, nisto tudo, o que me interessa mais é bater os meus tempos, verificar a minha evolução, e não ficar à frente de pessoas que nem sequer conheço. Até porque ficar em 1578º ou 1494º é quase o mesmo... :)

Como já fiz desporto de equipa, agora gosto da corrida porque posso dar-me ao luxo de ser egoísta e pensar só em mim.
Dia 30, por ser a primeira experiência será realmente para aproveitar (espero).

Espero também que seja o ponto de viragem que esperas e a definição de novos objectivos!

Até domingo!

Jorge Goes disse...

Olá M obrigado pelo teu comentário vou dar cabo deste teclado com tanta baba..;))

Mas grande mesmo, é o teu post em que referes o aniversário do teu irmão, esse sim um relato na 1ª pessoa a que ninguem é indiferente. Fiquei com pena de não ter irmãos ou uma irmã ( mais velha)

E essa ansiedade?
;)