segunda-feira, 22 de outubro de 2012

47 dias to go...


Caro diário de corridas

 

Faltam 47 dias e 23h.

 Em contraponto com as expectativas que sempre tive em relação a provas em distancias grandes, a Maratona de Lisboa está a meter-me alguma ansiedade que não reconheci de imediato mas que agora se instalou de vez, talvez porque me sinto impreparado fisicamente, talvez porque esta mudança de planos e de treinos desde a ½ de Portugal ainda não está a produzir resultados, talvez porque tenha ainda feito poucos treinos longos, talvez porque esteja a atravessar o blues do Muraki, porque estou farto de correr sozinho, etc..ect..Noto laivos de ansiedade perante o desafio. 
Algo que nunca conheci em fase alguma da minha vida toma agora uma importância de respeito.

Ontem domingo, tinha planeado fazer um treino longo com duração de 2 – 3horas.

Na semana anterior , tinha combinado fazer este treino acompanhado mas sujeito a confirmação. Por razões que desconheço houve uma troca de números de telemóvel pelo que os meus companheiros não me conseguiram contactar e eu ontem ter que refazer mentalmente o percurso e a duração de um treino longo sem tempo e sem pressas a solo.

Preparando-me para sair de casa toca o telefone fixo, quem será? Era o meu recente colega de treinos Sr. José Almeida que me propunha a sua companhia para 1 hora de treino nas 2 h que eu tinha planeado, claro que sim .. sai e vejo o tempo muito nublado e a pingar consistentemente. Bolas!

Meia hora antes tinha estado na rua e não chovia, apesar de estar feio carregado de nuvens. Toca a mudar de equipamento e perante a cor amarela do blusão da “inverse” fiquei atónito sem poder mexer um músculo para fugir daquela sina. – “ Levo, não levo, levo, não levo.”..levo!

Como sempre me aconteceu, tendo eu 2 oportunidades ou seja 50% das possibilidades, escolho sempre a outra, aquela pior. Escolhi levar o pior casaco que já alguma vez tive ( já escrevi sobre ele aqui..no Blog)

 Toca a despir a camisola técnica, mudei de calções e tirei meias. Calcei os ténis que não queria para poupar os Mizuno á chuva é á lama e levei uns adidas que já deram a  bufa em termos de amortecimento técnico mas como são resistentes á agua foram a opção. Deixei na garagem o cinto de hidratação pra quê andar carregado..ter sede quando chove?ahahaha este Jorge ( Burro !!! )  ou seja tudo ao contrário do que tinha previsto. sai de casa sem chuva mas perante a ameaça de muitas nuvens que vinham  de sul dos lado de Sesimbra que trazem sempre chuva.

  Saída épica a mandar biscoitos pró lado contrário do portão da casa e os meus cachorros caem sempre na mesma estória eheeh, bem.. 800 m é a distância que percorri até encontrar os meus colegas de treino, juntou-se também a sua filha Inês que não quis perder a oportunidade de fazer um treino com 2 ultra maratonistas.( palavras dela)

                  Demasiado leves e despidos pró meu gosto vi logo que o amigo Almeida tinha previsto um empeno dos bons pra aquela hora conjunta.

- “Bem Jorge, tinha pensado ir até ao Seixal pela torre da marinha - quinta Manuel André -  centro estágio Benfica - e na volta pela marginal pois era crime não vir por aí. Subimos pelo deposito – casal do marco – pinhal de Frades – casa dá mais ou menos 1h e a Inês não gosta de fazer mais.”

- Parece-me muito bem caro amigo..qd quiser..” 
          Seguimos, os primeiros kms sempre a rolar a 5,30´/ km deram-me alento para ir rindo e trocando uma animada conversa com o atleta decano. O riso começou a amarelar quando me informa de que foi o ano passado campeão da milha urbana nas 6 provas que compõem o campeonato das freguesias. E a filha é uma atleta que se bate com as melhores referências do concelho tendo participado em inúmeras provas.

- km 5 – rolar abaixo dos 5`
      Mesmo com um ritmo mais vivo, o belíssimo pulmão do Sr. Almeida não o desmotivou de puxar, meter conversa e sempre a contar episódios de corridas, eu confesso que aqui ainda respondia e sorria como que a mostrar interesse na conversa, mas o meu pensamento estava no blusão, se o mantinha fechado era uma sauna e saltava água pelas mangas no movimento da passada, sem camisola por baixo colava-se ao peito e costas, se o abria ia deslizando com o vento para trás e deixava a barriga á mostra e a gola a meio das costas, se o abria quase todo parecia um pára-quedas, pela segunda vez me enganei não caiu um gota de água e levei este karma colado ao corpo.

- km 7 – rolar abaixo dos 4,40´
    Costumam os grandes atletas falar sobre a existência de um 2º fôlego ou na versão que li ( the second breath) e pareceu-me sentir isso quando entrei na marginal junto ao rio que estava com maré cheia,  com o vento de frente refrigerei comecei a ganhar novamente cor e baixei muito a temperatura corporal, aquele casaco está projectado para tempo chuvoso  e cuja actividade física se assemelhe a uma couve..não para pessoas que praticam desporto com regularidade e ainda menos corrida. Ao afastar o casaco do corpo caiu uma quantidade de água condensada equivalente a um copo de agua. O sr. Almeida falava sem parar nem dar mostras de cansaço. A Filha nem lhe ouvi a voz mas sempre com ar sereno. Dizem os entendidos que uma das formas de vermos se estamos no nosso ritmo é cantarmos o hino nacional por exemplo.

- Se o Sr. Almeida declamava de necessário todos os cantos dos lusíadas eu nem o “ pau ao gato “ conseguia.

Aqui já nem respondia, limitava-me a olha-lo quando ele falava e sorria ou franzia o sobrolho como que a mostrar apreensão por algum questão de indignação do senhor..


- km 9 – rolar a 4,30´
    Eis a subida da Torre da marinha que nos conduz ao depósito de água, eu nunca liguei muito ás subidas até porque não as valorizo muito, faço e acabou, empinadas ou não gosto de subir. esta tem 10% inclinação mas há piores é o que penso. Depois da subida onde costumo abrandar pra respirar, eles não..deixamos o Rio Sul á direita seguimos em ritmo demasiado vivo para um atleta como eu..Teimoso como sou, quis manter sempre um contacto quase físico com a minha lebre, como que a informar:
-“ Amigo não vá por aí…se acelera eu acompanho-o,..”

pensando eu que o desanimava e que ele baixava o ritmo, tá quieto..ainda era pior quando me sentia ao seu lado, acelerava ! Como cavalheiro ainda argumentei que o ritmo afastaria a Inês de futuras saídas e ela ligeirinha riu-se e com um fôlego totalmente controlado diz que mesmo assim
- " hoje até esta bem....tá fresquinho !!"
- tá fresquinho???? Vou eu com os bofes de fora a suar que nem um desgraçado, a pedir a deus um cruzamento com sinais vermelhos demorados e diz com tremenda candura..tá bom que tá fresquinho??? Raios!!!

km 10 entrada nos 3 km finais
Passei em frente ao ginásio e ainda pensei arranjar uma desculpa pra ficar por ali, mas não consigo é mais forte do que eu e seria uma desfeita para aqueles amigos ( pai e filha de 64 e 29 anos ) que além de grandes atletas são simpáticos e humildes.

 
km 12
a Inês sai do grupo e volta pra casa ( acreditam que nem me despedi apenas acenei, pois é lá foi o gentleman ás urtigas)
O meu companheiro pergunta-me se o ritmo está forte, pois acha que ainda vou continuar o treino mais 1h conforme lhe tinha dito, eu por nervosismo, cansaço ou palermiçe ainda respondi que sim..Resolve acompanhar-me até á minha casa, respondo que o ritmo está bom..seguimos a 4,15´

 De casaco aberto sigo na "roda" do campeão da milha como se fosse assistir a algum parto ou fugir do Gaspar do fisco..já não pontapeava os gluteos há muito como ontem..

 A minha sorte ( e que sorte) foi que em sentido contrário vinha um amigo (dele) que ia fazer umas rectas e ele deixou-me e foi acelerar com o outro..

 Reduzi o passo agradecendo aos céus, tinha os calções todos encharcados abri o casaco e levei-o na mão os 500m que faltavam até casa, em tronco nu arrefeci e respirei, baixei o nº de batimentos cardíacos de forma brutal..

Ultimamente não levo cardio frequêncimetro, mas recentemente (menos de 1 mês) fiz uns exames muito rigorosos e andei 24h com um holter que registou as frequências cardíacas durante um dia inteiro. Com um mínimo de 40 bpm e um máximo de 110bpm, registou uma média de 58 bpm ao longo das 24h em que andei com aquilo ao pescoço e ligado por montes de fios colados ao peito.

Cheguei a casa com metade do treino que tinha previsto mas de rastos, entrei na garagem descalcei-me com desprezo e sem desatar os atacadores, mandei o casaco pró chão e roguei-lhe uma praga cigana pra que me encha de moscas caso tenha a leviandade de pensar..ouviste?? pensar ..pensar em vesti-lo para treinar..

tirei o GPS , o mp3 que andou sempre na mão pois o casaco por dentro era um aquário, tirei as meias encharcadas sem ter caído uma gota de água dos céus.

 E fui alongar no quintal a pensar no empeno que acabara de levar.

 Normalmente não sinto dores musculares e acabo bem , mas ontem...doia-me tudo

O que se pode retirar daqui?
que preciso treinos mais duros?
que não basta andar a papar kms?
que me falta treinos intervalados e com mudanças ritmo?
que a forma de evoluirmos é treinar acompanhado?
que tenho o carreto sempre na mesma nmudança e se tenho que mudar ..aqui d´el Rey?

J

 

5 comentários:

Pedro Carvalho disse...

Tive que deixar escapar umas boas gargalhadas. Parece um relato de um filme cómico ou mesmo um filme mudo.
Uma coisa é certa, EU não aguentava. Com esforço ou não lá acompanhaste e fizeste um bom treino. Parabéns. ;)

Anónimo disse...

Acho que fizeste um treino demasiado rápido!
Quando treinamos, temos que escolher as companhias ideais para o ritmo e distância que nos propomos a fazer.
Não te esqueças que a maratona não faz prisioneiros e se fores mal preparado, vais pagar a factura.
Abraço e bons treinos.

Jorge Goes disse...

Bom dia e obrigado a ambos pelos vossos comentários.

Pedro: sabes as sensações que nos passam pela cabeça qd levamos estes empenos, mas agora que passou até foi fixe .
Ontem falei com o patrocinador do empeno e diz me que temos que repetir, não disse nada mas passou-me pela cabeça pôr a seguinte mensagem no telefone fixo,

- “ o numero que marcou não está atribuido ..”

Abraço e bons treinos


Zé Pedro:

Sabes que a média até nem foi acima do que habitualmente treino, o que arrebentou comigo foram os esticões.
Foram as mudanças de ritmo bruscas e a porcaria do casaco que me ia matando.

Sem duvida há que escolher muito bem os colegas de treino, verificar se são compatíveis connosco em termos de objectivos e de ritmo.
Não sei que tipo de provas habitualmente fazes, mas qd se fazem maratonas ou ultras, os treinos são muito solitários e a companhia é sempre bem vinda. Este foi o 2º treino com aquela dupla e pareceram-me acessíveis na primeira vez. A minha ideia a 46 dias da maratona Lisboa é fazer treinos variados sendo que ao fds por razões de disponibilidade faço sempre os longos. Queria rolar dentro da casa dos 5.20 a 5.30”/km mo era um treino para rolar a um ritmo calmo, calhou assim..mas no fundo foi fize +por ser diferente,..

Abraço e bons treinos



Bluewater68 disse...

:) Bom dia Jorge. Mas isso não foi um treino, foi sim, uma prova de sobrevivência. Bem, eu se andasse a esse ritmo, teria caído para o lado aí aos 7Km e o Garmin não deixaria de apitar a avisar que o máximo de pulsações teria sido excedido. Pensa que foi um excelente treino para uma prova de 10Km ou mesmo para andar mais rápido numa meia-maratona, mas não terá sido o melhor para enfrentar uma maratona, quando o principal objectivo é chegar ao fim e não o tempo que se vai conseguir.
Eu nem me atrevo a sair com os papa-léguas que andam lá pela pista. O seu ritmo de aquecimento é o meu das séries :) Depois, tenho um amigo com quem às vezes treino. E como ele corre mais que eu, é sempre uma luta desgraçada. Como é que as coisas funcionam? Eu pretendo p.e. ir a 5:15min/Km, e ele, pela vontade dele, podia muito bem ir a 4:45min/Km. Ora nós vamos a falar e ele começa a afastar-se de mim. E eu deixo-o ir. Ao fim de uns 10m ele repara que eu fiquei para trás e abranda. É assim. Nestas coisas, o meis lento tem de impor-se aos restantes, senão, rebenta.
Insiste nos treinos de 20Km, máx 30Km, a 5:30min/km, com alguns ritmos mais rápidos mas bem controlados, que permitam manter a energia até ao fim.
E já agora, houve uma vez que eu quase nem fui treinar, apenas porque olhava pela janela e não me conseguia decidir em relação ao equipamento. E sim, eu também escolho sempre os 50% errados :)
Bons treinos

Jorge Goes disse...

Boas Luis,

Sabes que a dado momento ainda pensei abrandar e deixar ir quem quer ir mais depressa, mas por outro lado custou-me não acompanhar.
Por momentos tive a faca e o queijo na mão, dependia de mim e da minha capacidade de andar áquele ritmo. O amigo em questão é alguém que correu a milha dentro dos 4 minuto e tal e actualmente anda nos 6 minutos. Estamos a falar de mais de 1600m (para ele 1h de treino a este ritmo não é nada de especial) Eu levaria para a mesma distancia se calhar mais de 1 minuto ou 2..
Sei que para se evoluir há que mudar a forma de treino e adaptar novos métodos com novos ritmos e ajusta-los a um objectivo, mas há um período de adaptação e há até quem nunca se adapte.

Para o meu objectivo interessam-me treinos em que role a um ritmo confortável na chamada zona de economia de corrida, para obter benefícios práticos e garantir a sobrevivência 
Uma maratona não é uma prova de meio fundo nem de velocidade, uma maratona é isso mesmo uma prova longa , e o meu objectivo é terminar dentro do tempo que estipulei ou seja abaixo das 3,50h
O que dará um ritmo de Pace: 5:27 min/km perfeitamente dentro do meu ritmo económico.
A diferença é que ele corre 1 hora e ficasse por ali e eu aqueci e ok..vamos lá então mais 1 ou 2 ou mais horas de corrida entendes?

Qt ás más ecolhas, apenas temos que ser optimistas e pensar se corremos assim com aqueles trambolhos o que faríamos em situação normal

Abraço e bons treinos.