Hoje retomo a minha vida.
Depois de uma semana sabática a
deliciar-me com a loucura da maratona, hoje regresso ás lides até porque dia 29
tenho a S.Silvestre de Lisboa e quero mostrar serviço. Vou com a minha equipa C.P.A
e sem contar comigo são todos craques!
Há
dias em que acordamos felizes e hoje foi um desses dias. A caminho do emprego
vinha a pensar no dia 9 Dez. em tudo o que aconteceu e fui-me lembrar das
palavras de um atleta que reclamava porque outros atletas tinham cortado
caminho fazendo uma diagonal por cima dos passeios encurtando em metros a prova
(para vos situar era na entrada na Av. José Malhoa.)
- ”E
depois digam que correram 42195m..!!” palavras do senhor (dito desta forma
parece eclesiástico.mas não é)
Aquelas palavras provocaram em mim uma
reacção do tipo: E se a corrida terminasse agora, mesmo no cimo da José Malhoa?
Ou no Corte Inglês? E se me dissessem:
- “ Jorge, como sei o que tens passado
com a lesão do joelho, antes mesmo de começar a prova dou-te a medalha e não
precisas de correr, vá andor és maratonista!”
Não! Nunca na minha vida eu queria correr!
Mesmo que acabasse em ultimo eu queria correr e terminar a maratona, nesta fase
e com menos de metade já feita queria
continuar, não queria que este bem-estar, esta paz de espírito terminasse agora!
Quero cortar a meta mas no sítio onde a aceitei psicologicamente e para o qual
me treinei com afinco, lá no estádio 1º de Maio daqui a 26-27 km daqui! Quero fazer cada
um dos metros da maratona, esperei demais por isto
Estava bem, forte e para mim só fazia
sentido se a fizesse toda! Conheço-me tão bem..!! Fazia cada km com um sorriso,
distribuía hi-five a cada esquina em cada mão, fazia a minha festa, batia
palmas, fazia adeus e agradecia o apoio viesse de longe das terras frias da
Baviera ou do calor romano. Trocava opiniões com o Mário Lima e com o Luis Parro
e sentia-me especial, um privilegiado pela companhia e por me sentir tão bem
apesar de já ter mais de 20 kms.
Cheguei á distancia da ½ maratona com 1h
e 54` ou seja dentro do tempo que previ para a meia distancia e mantendo-me
focado em manter um ritmo de maratona, que me permitisse sem sobressaltos
acabar a prova abaixo das 4h.
E se estava muito bem fisicamente melhor
ainda psicologicamente. Sentia-me um atleta de topo, sentia uma realização
pessoal fantástica e ainda ia a meio da prova, sem cansaço e na companhia de um
grupo 5 estrelas. É engraçado os assuntos que falamos quando corremos grandes distâncias.
Tudo! Tal como amigos que não se vêm vão para um café por a conversa em dia, nós
conversamos enquanto corremos e os laços que se criam são sem dúvida muito
maiores.
A talho de foice sem me desviar muito do
tema. Lembro-me no início da prova ver uma atleta com umas calças de running
brancas e cheias de flores, com uma camisola atada á cintura e corria
desprendidamente apesar do desconforto. Nunca mais a vi!
Depois da “minha” passagem pelo retorno e
correndo em direcção á ZA do km 30 (mais ou menos o km 24 para quem ainda ia
para o ponto retorno) reparo na senhora (+ 40 anos) vir em sentido contrário
nesse km de passagem. Aquelas calças brancas com flores foram determinantes
para que reparasse, corria devagar, fazia a sua prova e tinha um ar de quem
vinha a acusar os kms, acompanhada por um atleta mais velho que a incentivava
num francês fluente com um sotaque perfeito.
Nesta
fase da corrida (30km) eu já estava com fortes dores no joelho e reduzi
velocidade por cautela, não se pensa em muita coisa com dores, mas reparei
naquelas calças e pela forma como vinham na minha direcção.
Abasteci
e esfreguei a perna durante 30 segundos, 1 minuto? 2 Minutos..? Retomei a
corrida e quem vejo á minha frente??? A senhora das calças de flores! Os quase 6 km que nos separavam estavam
feitos pelos franceses em 2 /3 minutos? Mais ces Gaulois sont fous?
Será que estamos no âmbito de um fenómeno na Av. da Índia ? Ou de uma super-heroi que espeta duas jardas e faz 3 km por flato ?
Lembrei-me logo de que o facto de não
haver controlo de chip no retorno iria dar nisto, quantos o não terão feito? Eu
vi pelo menos 2, Mas porquê? Mas quem estão a enganar além de eles próprios? Ainda
por cima estrangeiros, deslocam-se, gastam montes de dinheiro e fazem isto? Não
é que seja importante e agradecemos as divisas, mas … porquê estas tretas de batota?
Por muito mal que se esteja nada justifica, vi tantas pessoas a andar e não é
desonra nenhuma andar ou ter mesmo que parar para recuperar. Se não fosse o
facto da senhora ter umas calças exóticas nunca repararia.
Hoje lembrei-me disto e fui á procura dos
seus tempos, na leitura que fiz sem dúvida que ela é uma corredora, aliás uma boa
corredora com uma boa gestão de tempo até á ½ maratona, mas então porque o fez?
Com que necessidade? Será que se sentiu bem ao receber a medalha e de ter
acabado 1h -1h,30 mais cedo do que as suas reais capacidades..?
Sentiu-se bem ao chegar ao seu país e
mostrar uma medalha (que receberia na mesma) mas num tempo feito por si e na
sua prova?
Não me dá prazer nenhum fazer esta observação.
E não mudará em nada a estória da senhora francesa de calças á pipi, que continuará
a fazer atalhos.
Mas para ser um/a atleta é preciso ser justo, correcto,
aceitar as regras e cumpri-las com fair-play e honra. Infelizmente já desisti numa
prova a pouco mais de 10 km
da meta (UMA) e depois de correr nas areias de várias praias a sul, por mais de
30 km .
Posso chegar em ultimo e mesmo assim
sentir-me-ei como se tivesse um lugar no pódio, pois fui eu!!
Consegui!
6 comentários:
Oh Jorge... por acaso tenho em preparação um artigo sobre batota.
Não faço a mínima ideia que satisfação pode dar. Nós corremos pela vitória pessoal, pela satisfação pessoal, que gozo pode a batota dar?
Um abraço
Olá João,
nunca saberemos o que vai na abeça dos outros. Achei tudo tão estranho! Creio que deve ter sido a grande quebra da senhora que os fez tomar essa decisão.
que sejam felizes.
abraço
Olá Jorge, infelizmente esta situação é habitual, já tenho visto casos destes em muitas provas. Tb já alterei a rota normal de uma prova, mas sempre por necessidade, como ontem na S.Silvetsre do Porto a subir Sá da Bandeira, com as ruas estreitas e tantos milhares de atletas alguns são "obrigados" a ir pelos passeios, mas neste caso a distância é a mesma (metro a mais ou a menos). Posso dizer que nas provas no Porto, principalmente na Maratona com aquelas ruas empedradas e os músculos massacrados bem apetece ir pelos passeios, mas vou sempre pela rua numa de cumprir o objectiva a que me propús. No fim, as opções de cada um ficam com eles, o que importa é o que nós fazemos, e a ti (ou a mim) ninguêm viu encurtar as distâncias, nem ninguêm pode dizer que não somos maratonistas verdadeiros.
Aquele abraço e bons treinos
Viva Carlos,
obrigado pelo teu comentário que vem acrescentar valor ao post inicial. A verdade é que muitas vezes somos quase obrigados a atalhar para escolher o melhor percurso ou o melhor piso, mas isso não retira valor nem mérito. Agora encurtar quilómetros como foi o caso é que não, creio que muitas vezes nem têm essa intenção, mas a falta de um controlo rigoroso e penalisador permite esses escapes..:)
abraço e bons treinos
Estes gauleses são loucos! :) Eu também acho que não há glória nenhuma em fazer alarde de algo que não se conquistou, mesmo que tenha sido "só" um atalho de batota... Mesmo que os outros não saibam, sabe ela! Eu sentir-me-ia uma fraude.
E agora não tem a ver com a temática "Maratona", mas sim com a temática batota: quando fiz o C.Santiago Português, após o qual tens direito à Compostela (um documento entregue a quem faz os últimos 100km do Caminho a pé ou 200km de bicileta), vi muita gente que fazia o percuro de carro, tipo turistas, e depois chegavam ao fim (com maroscas de carimbos de albergues) e pediam o documento só para dizer que fizeram... Ora, o documento é um papel sem valor nenhum, só tem valor para quem fez mesmo o que lá indica... qual o interesse? Para expôr em casa e falar de uma experiência que nunca existiu?? E pronto, é isto. :)
Beijinhos e boa semana!
Olá R
Um dos meus sonhos são os caminhos de Santiago pelo lado Françês, mas nunca sequer suporia aldrabar para mostrar que sou capaz e andar a gabar-me de feitos que não são meus.
Acho vergonhoso e acho também que os próprios nalguma fase das suas vidas também sentirão o mesmo!
Estás melhor?
Bj
J
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